Entenda Risco de Perdas Gestacionais
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Dr Arlley Cleverson

Medicina Materno Fetal

Fatores de Risco para Perdas Gestacionais

Certas doenças prévias deixam a mãe mais suscetível a perdas gestacionais, mas qualidade dos espermatozóides desempenha papel fundamental.

Perdas gestacionais, comumente chamadas de abortos, são fatalidades que nenhuma mulher deseja enfrentar. 

Infelizmente, trata-se de algo comum. 

Desde microabortos, que ocorrem nos primeiros dias de fecundação e muitas vezes sequer são notados, até processos emocionais e fisicamente dolorosos como as perdas em estágios mais avançados, as perdas gestacionais acontecem com muitas mulheres. 

Certas doenças prévias deixam a futura mãe mais suscetível a esses episódios. No entanto, como a gravidez é um processo que envolve duas pessoas, a qualidade do espermatozoide desempenha papel importante.

Neste artigo, vamos conversar um pouco sobre o que são as perdas gestacionais, os motivos pelos quais ocorrem e o que você pode fazer para manter sua gravidez saudável. 

Siga a leitura!

O que é a perda gestacional?

A perda gestacional é quando o embrião ou feto falece durante o seu desenvolvimento na barriga da mãe. Ela é classificada de acordo com o período de acontecimento.

Até a 20ª semana de gestação (metade da gravidez), essa perda é chamada de aborto espontâneo ou aborto retido, segundo suas características.

O aborto espontâneo ou retido, conhecidos popularmente como AE e AR, acontecem principalmente durante as primeiras 12 semanas de gestação. 

Por esse motivo, a ultrassonografia morfológica do 1° trimestre é um divisor de águas na vida de muitas mamães.

Enquanto em um aborto espontâneo o corpo elimina o embrião/feto, em um aborto retido o feto perde a vida dentro da barriga da mãe sem que haja a expulsão natural feita por seu corpo.

Já quando a perda acontece após as 20 semanas de gestação, ela é chamada de aborto tardio, que também pode ser retido ou espontâneo. 

Mais parecido com um parto, o aborto tardio não é tão comum quanto o aborto que acontece nas primeiras 12 semanas. Por isso, sempre que acontece é necessária uma investigação para que a causa seja descoberta.

É importante mencionar ainda que, quando a perda acontece com poucos dias de atraso menstrual, ela é chamada de microaborto. Por ser muito parecida com a menstruação, muitas mulheres sequer sabem que sofreram o microaborto.

Fatores de Risco para Perdas Gestacionais

Fatores de Risco para a Perda Gestacional

Geralmente as perdas gestacionais que acontecem até as 12 semanas são por causas genéticas e, entre aspas, naturais. Por esse motivo, somente a partir da 2ª perda é realizada uma investigação mais detalhada.

É por esse motivo também que sofrer um aborto não significa que sua gestação tenha sido de risco, nem que as próximas venham a ser. 

Ainda assim, os fatores de risco para perda gestacional existem e devem ser monitorados de perto!

Os principais fatores de risco para a perda gestacional são:

Anormalidades cromossômicas

As anormalidades cromossômicas são a explicação de boa parte das perdas no início da gestação. Podem ser causadas por fatores externos, como a ingestão de álcool ou o uso de tabaco ou drogas, mas podem acontecer por um erro de percurso próprio do corpo, tecnicamente chamados de erros nas divisões celulares ou fertilização.

Grande parte dessas anomalias são de condições não compatíveis com a vida. Assim, o corpo da gestante se encarrega de que a gestação não avance mais.

Idade materna

A idade materna é outro fator de risco. Mas não pense que é apenas para a idade avançada! Na verdade, mesmo adolescentes correm o risco da perda. Ambos extremos da idade reprodutiva apresentam riscos.

Esses riscos são inerentes ao corpo, já que especialmente o sistema de reprodução não está totalmente “em forma” para gerar uma nova vida em ambos momentos.

Baixa qualidade dos espermatozoide

A baixa qualidade dos espermatozoides é uma razão muito comum para a infertilidade do casal, bem como a perda gestacional. Quando há essa baixa qualidade, é comum que o casal demore a engravidar e, quando engravida, aumentam os riscos da perda.

Infelizmente, o check-up antes de dar início às tentativas é pouco usual, especialmente para os homens. Por isso, muitos casais só descobrem após muito tempo de tentativas frustradas. 

Baixa produção de progesterona pelo corpo lúteo

A progesterona é o hormônio produzido pelo corpo da mulher que serve para manter a gravidez. Ou seja, sem a progesterona significa sem gravidez.

O fato é que muitas mulheres sofrem essa deficiência na produção desse hormônio pelo corpo lúteo. Assim, muitas gestações iniciais são interrompidas. 

Maturação endometrial ineficaz para a nidação e desenvolvimento do embrião

O endométrio é uma camada no útero que serve como “cama” para acomodar o óvulo fecundado. Quando o óvulo não é fecundado, essa camada é eliminada na menstruação. 

Para que se tenha uma gravidez viável, é essencial que o endométrio tenha espessura suficiente. 

Mulheres que têm o endométrio menos espesso não apresentam condições favoráveis para se dar início a uma gestação. Quando a gestação é iniciada, a maturação endometrial ineficaz não permite que ela se mantenha por muito tempo. 

Infecções maternas como vaginoses e clamídia

Apesar de não serem encaradas como algo preocupante fora do período gestacional, a questão muda quando uma gravidez está em percurso, pois tais infecções estão relacionadas à perdas gestacionais. 

Alterações anatômicas no útero 

As alterações anatômicas do útero (útero bicorno, unicorno, septos uterinos e incompetência istmocervical) são outro fator de risco. Por isso é essencial que a gravidez seja acompanhada de perto pelo seu obstetra.

Pacientes com Diabetes Mellitus

Diabetes e doenças tireoidianas e síndrome dos ovários policísticos, trombofilias hereditárias e adquiridas síndromes influenciam tanto na fertilidade do casal quanto na própria gestação em si. As trombofilias podem fazer com que uma gestação não vá adiante. Nesse caso, todo cuidado é pouco.

Pré-eclâmpsia

A pré-eclâmpsia é uma doença grave. Quando não tratada, pode trazer diversas consequências. Uma delas é a perda gestacional tardia. Por isso, o diagnóstico precoce da pré-eclâmpsia é crucial!

Controle é essencial para uma gestação saudável

Uma vez mais, o acompanhamento médico é a chave para uma gestação saudável e de mínimo risco. 

Embora a perda gestacional possa acontecer de maneira natural, sem que isso signifique nenhum problema específico, é importante realizar seus exames e, inclusive, que seu parceiro também os realize. 

Como diversos fatores de risco são detectados mesmo antes da gestação, é uma recomendação importante que o casal busque um check-up focado no sistema reprodutor antes de iniciar as tentativas.

Caso você faça parte de um desses fatores de risco de perda gestacional, converse com seu médico e fale abertamente sobre suas dúvidas.

O que não vale é não curtir a gravidez. Preocupe-se! Mas não deixe que essa preocupação seja o principal fator desse momento tão importante em sua vida.

Referências:

SOARES, Andressa Mara; CANÇADO, Francielle Marques Araujo Andrade. Perfil de mulheres com perda gestacional. Rev Med Minas Gerais, v. 28, 2018.

DA COSTA ROCHA, Ângella Beatriz Pereira; CIRQUEIRA, Rosana Porto; CÂMARA, Abimael Martins. Trombofilia Gestacional: Revisão de Literatura. ID on line. Revista de psicologia, v. 13, n. 43, p. 398-406, 2019.

RIBEIRO, Ana Maria Carvalho et al. Diabetes gestacional: determinação de fatores de risco para diabetes mellitus. Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, v. 10, n. 1, p. 8-13, 2015.

Dimitriadis E, Menkhorst E, Saito S, Kutteh WH, Brosens JJ. Recurrent pregnancy loss. Nat Rev Dis Primers. 2020 Dec 10;6(1):98. doi: 10.1038/s41572-020-00228-z. PMID: 33303732.

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